Feminista, negra e guardiã do número de Marielle Franco: quem é a candidata a vereadora mais votada pela segunda eleição seguida em Santa Maria

Caroline Souza e Tayline Manganeli

Feminista, negra e guardiã do número de Marielle Franco: quem é a candidata a vereadora mais votada pela segunda eleição seguida em Santa Maria

Foto: Beto Albert (Diário)

Alice tem 28 anos e iniciou o envolvimento com movimentos sociais aos 14

A militante de esquerda que conquistou o voto e a confiança de 4.129 santa-marienses foi novamente a candidata a vereadora mais votada nas eleições municipais. A diferença de quatro anos atrás foram 758 novos votos e a consagração de uma cadeira no Legislativo. Alice Carvalho, do PSol, é uma das três mulheres e a única negra a integrar a lista dos 21 eleitos

+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia

Em 2020, mesmo sendo a mais votada, com 3.371 votos, Alice não entrou para a bancada da Câmara. Isso porque o partido não atingiu o quociente eleitoral — como é chamado o número mínimo de votos para que a sigla eleja um vereador. Em resumo, o quociente se origina da divisão do número total de votos válidos pelo número de cadeiras na disputa — no caso de Santa Maria, 21. Naquele ano, faltaram mais de 2 mil votos para o PSol atingir a cota mínima, apesar da alta votação de Alice. Por esse motivo, o partido não elegeu a vereadora.

Alice não desistiu e os votos superiores ao da última eleição comprovam que seus eleitores também não. Em entrevista à reportagem do Diário, a ativista dos movimentos negro e feminista afirmou que vários apoiadores foram movidos pelo sentimento de "fazer justiça". 

— Desta vez, nosso projeto deu certo. Depois de tanta luta, tivemos um resultado positivo e uma votação histórica, uma cadeira na Câmara de Santa Maria — afirma. 

Alice, uma jovem mulher negra

Reservada na vida pessoal, mas nada acomodada quando o assunto é propor mudanças para os problemas sociais. Disposta a debater essas questões e possíveis soluções para uma vida em sociedade mais justa e com garantia de direitos a todos. Essas são algumas características de Alice. Uma jovem que assume o primeiro cargo político aos 28 anos, mas já trilha este caminho há muito mais tempo. 

Natural de Santa Maria e moradora do Bairro Tancredo Neves desde criança, ela conta que o despertar para a política aconteceu aos 14 anos, quando conheceu os movimentos negro e feminista. O interesse pelas pautas a aproximaram de coletivos locais que atuavam na luta pelo direito das mulheres e pessoas negras. 

O percurso faz com que ela considere difícil falar sobre sua trajetória sem relacionar com a militância política. 

— Sou psicóloga, filha, irmã, tia, namorada e, principalmente, uma militante ecossocialista — afirma.

Ingressou no Partido Socialismo e Liberdade (PSol) após as jornadas de junho de 2013, uma série de mobilizações de massa ocorridas em mais de 500 cidades do Brasil para protestar contra situações como o aumento das tarifas de transporte público, violência policial e a falta de investimentos em serviços públicos, como saúde e educação. 

Alice é uma das três mulheres e a única preta a integrar a lista dos 21 eleitosFoto: Beto Albert

Na Universidade Franciscana (UFN), onde se formou psicóloga, também participou ativamente do diretório acadêmico do curso e do Diretório Central dos Estudantes. 

Em 2018, concorreu pela primeira vez à deputada estadual pelo PSol, mas não foi eleita, ficando com 6.701 votos. A partir disso, encarou a disputa a vereadora em Santa Maria em 2020, e novamente, à Assembleia Legislativa em 2022, quando garantiu 9.350 votos, e, outra vez, ficou de fora.  

— Creio que eu só consigo seguir, construir e superar essas campanhas eleitorais porque não ando sozinha. Tem muita gente que constrói junto comigo e sei que é um programa coletivo. Se fosse algo pessoal e não político e coletivo, não daria tão certo — destaca. 

50777: o número de Marielle Franco 

Desde a primeira eleição, o número escolhido por Alice para representar sua candidatura foi o 50777, o mesmo da socióloga, ativista e vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2018. Além disso, o número também tem proximidade com a data de fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), uma organização pioneira na luta do povo negro no Brasil.

Quem será Alice na Câmara 

Neste ano, em que havia 11 mulheres negras concorrendo às cadeiras no Legislativo, apenas Alice conquistou uma vaga. Ela será uma das três integrantes da bancada feminina pelos próximos quatro anos e também a segunda parlamentar mais nova, atrás de Lorenzo Mazzine Pichinin (PSDB), 26 anos. Diante disso, a jovem eleita diz que sente o peso da responsabilidade e se vê no compromisso com os militantes e com o município: 

— Nossa ideia é de fazer um mandato combativo, um megafone dos movimentos sociais da cidade. 

A vivência como alguém que nasceu, cresceu e sempre viveu na periferia também estará presente durante a atuação no Legislativo. 

— Muitas políticas são pensadas somente para o Centro, ao experienciar a vivência da periferia, conhecemos a diferença de tratamento. Uma das pautas que colocamos como central na nossa campanha, além da questão das mulheres, foi a negritude e juventude da periferia. Quando falamos de cultura, direito a cidade, esporte e lazer, também estamos falando dessas pessoas que, de alguma maneira, são negligenciadas pelo poder público.

Leia também


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Estreante da Câmara, Manequinho Guilherme Badke (Republicanos)  quer ampliar legado do pai Anterior

Estreante da Câmara, Manequinho Guilherme Badke (Republicanos) quer ampliar legado do pai

Confira a votação dos 256 candidatos a vereador em Santa Maria Próximo

Confira a votação dos 256 candidatos a vereador em Santa Maria

Política